24/12/2015

NO CAMINHO DAS ESTRELAS


"Seguindo
o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
sobre a onda
sobre a nuvem
com as asas primaveris da amizade

simples nota musical
indispensável átomo da harmonia
partícula
germe
cor
na combinação múltipla do humano

preciso e inevitável
como o inevitável passado escravo
através das consciências
como o presente

não abstracto
incolor entre ideais sem cor
sem ritmo entre as arritmias do irreal
inodoro
entre as selvas desaromatizadas
dos troncos sem raiz


mas concreto
vestido do verde
do cheiro das florestas depois da chuva
da seiva do raio do trovão
as mãos amparando a germinação do riso
sobre os campos da esperança

a liberdade nos olhos
o som nos ouvidos
das mãos ávidas sobre a pele do tambor
num acelerado e claro ritmo
de zaires calaáris montanhas luz
vermelha das fogueiras infinitas nos capinzais violentados
harmonias spiritual de vozes tamtam
num ritmo claro de áfrica

assim
o caminho das estrelas
pela curva ágil do pescoço da gazela
para a harmonia do mundo"


In Agostinho Neto


Feliz Natal e um Ano de 2016 com mais tranquilidade.
Beijinho doce:)

08/09/2015

CÉCIL


"O maior felino do Zimbábue é agora um troféu de caça. Cécil, o felino mais fotografado e acarinhado da reserva zimbabuense de Hwange, foi morto por um caçador furtivo, no início de julho.
O leão foi encontrado morto na reserva sem cabeça nem pele, típico comportamento dos caçadores furtivos. A pele e a cabeça destes animais são muito valorizados no mercado. As autoridades calculam que alguém pagou 50.000 euros ao caçador para abater Cécil, cujo porte e beleza eram apreciadas por turistas de todo o mundo. Dispararam pela noite com um arco e flechas para não fazer ruído e esteve a noite inteira a sangrar até ser abatido pela manhã. Consideramos que Cécil foi alvo de caça furtiva”, disse ao jornal espanhol El Correo Luis e CJ Muñoz, colaboradores de várias ONG sulafricanas e espanholas que protegem felinos. Segundo o jornal espanhol El Confidencial, ainda não identificaram o caçador, mas já foi confirmado que se trata de um cidadão espanhol.
Até agora a investigação determinou que o animal foi persuadido a sair da reserva através de uma presa morta que foi usada para atrair o leão. Estes dados foram recolhidos devido a um GPS que a Universidade de Oxford colocara em Cécil para conhecer seus hábitos.Aos 13 anos, Cécil já se havia convertido no maior felino da região do Zimbábue. Dotado de uma beleza (e juba) imponente, Cécil já tinha conquistado três leoas da manada e era pai de 7 leõezinhos.As 7 crias deverão aliás ser sacrificadas, se se confirmar o comportamento típico dos leões em manada. O novo macho alfa terá que matar os filhos de Cécil para que as fêmeas estejam dispostas a procriar de novo.
Um final triste para um leão que, sem dúvida, se tornou num autêntico rei da reserva de Hwange.”




19/06/2015

"Presença Africana"


"PRESENÇA AFRICANA
 E apesar de tudo,
Ainda sou a mesma!
Livre e esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou.
Mãe-África!

Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou,
a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendém
Nascendo dos braços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo
o chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
Salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11!... Rua 11!...)
pelos meninos
 de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu
e corpo musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força destes dias...

E eu  revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
Longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente...

Terra das acácias, dos dongos,
dos cólios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.

Ainda sou a que num canto novo
pura e livre,
me levanto,
                                        ao  aceno do teu povo!  "                             

           Alda  Lara - Benguela,1953 (de  Poemas,1966)